A
principal dica dos autores profissionais é: "Escreva sobre o que você
sabe." Se veio até este artigo pois, deseja documentar suas experiências
de vida e emoções, então já começou bem, certo? Ao fazer algumas pesquisas,
você certamente encontrará o núcleo emocional da história que deseja contar e
poderá colocar a mão na massa. Está interessado? Continue lendo!
Começando a pesquisa
1.1- Comece a documentar a sua
vida com frequência.
Quem deseja escrever uma autobiografia precisa se acostumar a escrever
um diário e guardar vídeos, fotografias e lembranças do passado, pois isso o
ajudará muito mais tarde. Muitas vezes, nos lembramos de coisas incorretamente
ou sem detalhes; para evitar isso, precisamos de evidências físicas, afinal,
fotos não mentem e diários são sempre sinceros.
Se ainda não tem o hábito de registrar tudo o que acontece, comece a
fazê-lo agora. O jeito mais fácil de se começar é escrever em um diário todos
os dias, antes de dormir. Assim, você terá um registro preciso do que se passa
no seu cotidiano e na sua cabeça.
Tire muitas fotos. Imagine que não tem uma foto sequer
da sua mãe, e também não se lembra da aparência dela. O que faria? As imagens
ajudam a trazer memórias à tona, além de servirem como um registro de lugares e
eventos. Elas são essenciais para uma autobiografia.
Os vídeos também são registros poderosos que podem trazer muitas
lembranças e esclarecer dúvidas. Ver como você envelheceu com o tempo ou
assistir uma filmagem de um parente que já não está mais vivo certamente o
ajudará a colocar as emoções no papel. Grave vídeos em todas as oportunidades
que tiver.
1.2- Converse com amigos e
familiares.
É sempre uma boa ideia conversar com outras pessoas e coletar anotações
antes de começar a escrever uma autobiografia. Por mais que sinta que conhece a
sua "história", as pessoas próximas podem ter uma visão diferente das
coisas. Entreviste-as individualmente e grave tudo para ter um bom material na
hora de escrever. Se preferir, prepare uma folha com perguntas e respostas e
entregue a todos para que respondam de modo anônimo.
Faça algumas perguntas específicas, como por exemplo:
Qual a memória mais forte que você tem de mim?
Qual o momento ou conquista mais significativo da minha vida?
Você tem alguma memória difícil ou emotiva de mim?
Eu sou um bom amigo? Sou uma boa pessoa?
Qual objeto ou local você costuma associar a mim?
O que gostaria de dizer no meu velório?
1.3- Se possível, viaje e procure
parentes distantes e com os quais você não manteve contato.
O passado é muito útil na hora de se encontrar o sentido na sua vida e
de procurar uma motivação para começar a escrever. Procure parentes distantes
que não vê há muito tempo e visite-os; procure os locais importantes para o seu
passado, como a sua casa de infância, a primeira escola onde estudou ou o
cemitério onde seu tataravô foi enterrado. Mergulhe de cabeça no passado!
Se é filho de imigrantes e for possível visitar a cidade natal de seus
pais, faça-o. Organize uma viagem para o local onde eles nasceram e tente se
identificar com o local de um modo novo, mesmo que já o tenha visitado.
Aproveite o momento para ter uma ideia mais geral da história da sua família.
De onde vocês vieram? Quem eram seus ancestrais? Eles eram camponeses ou sempre
moraram em uma cidade grande? Participaram de algum conflito ou revolução
importante? Se sim, de que lado do conflito ficaram? Algum parente seu já foi
preso? As respostas dessas perguntas podem render excelentes descobertas para
seu livro.
1.4- Confira os registros
familiares.
Não adianta ler apenas os seus próprios diários e ter fotos de 10 ou 20
anos atrás: confira as coisas deixadas por seus ancestrais. Leia as cartas
deixadas por eles, procure por diários antigos, etc. Faça cópias de tudo para
arquivar e não correr o risco de danificar objetos antigos.
Se não tem acesso aos objetos de gerações muito antigas, tente pelo
menos encontrar objetos deixados por seus avós, como fotos de eventos
importantes e fotos da infância de seus pais. Tais imagens podem ser poderosas
e emocionantes, dando um impulso na escrita.
Toda família precisa de alguém responsável para arquivar e manter os
registros e documentos familiares. Se gosta de observar o passado, assuma essa
responsabilidade e aprenda o que puder sobre sua família e a história de vocês.
1.5- Leia outras autobiografias.
Antes de botar a mão na massa, é uma boa ideia conferir como outros
autores encararam o desafio de escrever sobre a própria vida.
Algumas obras clássicas que merecem a leitura:
·
Minha Vida, de
Charles Chaplin;
·
A Origem dos Meus Sonhos, de
Barack Obama;
·
Uma Lição de Vida, de
Nelson Mandela;
·
Pequenas Memórias, de José
Saramago;
·
Confesso que Vivi, de
Pablo Neruda.
Encontrando um ponto de partida
2.1- Tente encontrar uma conexão com a sua história.
A parte mais difícil de se escrever uma autobiografia é descobrir qual é
o ponto central da narrativa. Como autor, é seu papel se esforçar para não escrever
uma simples série de detalhes enfadonhos, pulando anos de cada vez por falta de
detalhes ou histórias interessantes. A ideia é elevar detalhes mundanos,
fazendo com que pareçam mais importantes e profundos do que aparentam. Como
conseguir isso? Você precisa encontrar uma conexão emocional com a história e
mantê-la como ponto central da narrativa do livro. Qual a sua história? Qual a
parte mais importante da sua vida, que precisa ser contada?
Visualize a sua vida inteira como uma cadeia de montanhas distante. Se
quer agir como um guia turístico das montanhas, você tem duas opções: alugar um
helicóptero e sobrevoar a área, mostrando pontos específicos à distância, ou
levar os turistas em uma caminhada pelas montanhas, mostrando-as em detalhes e
envolvendo todos na experiência. Se essas duas opções fossem dois livros
diferentes, qual deles você gostaria de ler?
2.2- Encontre as mudanças pelas quais passou na vida.
Caso esteja com dificuldade para encontrar um ponto de identificação e
conexão da sua história com os possíveis leitores, pense nas mudanças que
ocorreram no passado. Qual a maior diferença entre o seu eu de agora e de 20
anos atrás? De que modo você cresceu? Quais os obstáculos superou?
Como exercício, pegue algumas folhas e descreva-se em uma página há
cinco anos, há 30 anos ou há poucos meses. Que roupas você estaria vestindo em
tais épocas? Qual seria o seu principal objetivo na vida? O que você fazia nos
finais de semana? Compare as descrições e tente identificar as principais
mudanças.
Em Townie, a autobiografia do romancista americano André
Dubus III, ele descreveu como foi crescer em uma cidade universitária, na qual
seu pai distante trabalhava como professor e autor. Ele, por outro lado,
cresceu com a mãe, usando drogas, se metendo em encrencas e sem conseguir
encontrar a própria identidade. A transformação dele, de um adolescente fora de
controle para um autor de sucesso (como o pai era) é o centro da narrativa do
livro.
2.3- Comece
com um esboço. Assim
que tiver uma ideia geral do que deseja incluir na autobiografia, é uma boa
ideia começar a bolar um esboço de onde quer chegar. Diferentemente da escrita
de ficção, na qual é possível inventar a trama, ao escrever uma autobiografia,
você já tem uma ideia de onde a história terminará e de qual é a ordem dos
eventos. Ainda assim, o esboço pode ajudá-lo a analisar os principais pontos da
trama e decidir quais enfatizar e quais resumir.[3]
As autobiografias cronológicas
trabalham do nascimento à vida adulta, seguindo a ordem dos eventos conforme se
desenrolaram, enquanto as autobiografias temáticas e anedóticas saltam pelos
eventos, narrando histórias de acordo com um tema. Alguns autores preferem
deixar a trama seguir o próprio rumo em vez de seguir um esboço bem definido.
A autobiografia de Johnny Cash, Cash,
navega pela história dele saltando no tempo algumas vezes, como uma conversa se
desenrolaria com seu avô contando histórias. Trata-se de um jeito familiar de
se estruturar uma autobiografia, mas que é impossível de se planejar e esboçar.
Montando um rascunho da obra
3.1- Comece a escrever!
Os autores de maior sucesso do
mundo não têm segredo: é necessário sentar e botar a mão na massa, tentando
escrever um pouco mais a cada dia. Trate o trabalho como uma mina de material
bruto saído da terra, e tente extrair o máximo que conseguir. Não se julgue e
não se preocupe com a qualidade: surpreenda-se antes de terminar o trabalho.
É muito importante focar
completamente no trabalho. Por mais tentador que seja levantar da mesa para
passar um café forte ou passear com seu cachorro quando o bloqueio criativo
chega, resista e continue escrevendo! Seja forte!
3.2- Monte
um cronograma de escrita, pois é aí que muitos projetos fracassam.
É muito difícil sentar em uma
mesa diariamente e escrever, mas o processo é mais fácil quando há um
cronograma a se seguir. Defina uma produção diária para si próprio e tente
segui-la à risca. 400 palavras por dia? Dez páginas por dia? Depende só de
você!
Se não quiser definir uma
produção em palavras ou páginas, comprometa-se a escrever por um período
específico de tempo. Caso tenha uma hora livre à noite, antes de dormir, separe
esse tempo para trabalhar no livro e foque-se o máximo possível.
3.3- Experimente
gravar a história e transcrevê-la depois.
Caso queira contar sua história,
mas não esteja muito a fim de escrever, ou tenha dificuldade com a escrita
formal, talvez seja uma boa ideia gravar-se contando a história e transcrevê-la
depois. Prepare um drinque, vá para um cômodo tranquilo e use um gravador
digital para registrar sua vida.
Pode ser útil pedir a ajuda de
uma pessoa para isso. Sente-se com ela e trate a gravação como uma entrevista
caso tenha dificuldade de falar sozinho para o microfone. Peça que a outra
pessoa faça perguntas interessantes e aproveite a oportunidade para contar suas
histórias!
A maioria das biografias e
memórias escritas por pessoas que não são autores profissionais é "escrita
assim". Elas gravam entrevistas, contando histórias, que são transcritas
junto de um escritor fantasma, pessoa responsável por realmente colocar as
palavras no papel. Por mais que pareça trapaça, o processo funciona!
3.4- Seja específico e direto.
A boa escrita é repleta de
detalhes específicos que esclarecem a história, não de distrações. Quanto mais
a sua história for voltada para os detalhes, melhor será sua autobiografia. As
cenas importantes devem ser tão longas quanto possível, para que você extraia o
máximo delas. Se acabar escrevendo demais, tudo bem, revise depois!
Se a linha narrativa do livro
gira em torno do seu relacionamento com seu pai, você poderia descrever a visão
de mundo dele por 50 páginas, discutindo a mente pequena ou a misoginia dele,
mas você provavelmente alienaria parte do seu público logo de cara. Em vez
disso, foque nas coisas que o leitor conseguirá ver. Descreva a rotina dele
quando chegava em casa, ou o jeito que ele falava com a sua mãe. Dê detalhes!
É importante que a sua autobiografia seja real. Não
invente histórias só para parecer levar uma vida mais animada.
Use palavras que chamem a atenção dos leitores!
Pesquise também outras fontes sobre como produzir
uma autobiografia.
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